quarta-feira, 11 de maio de 2011

Capítulo 7

Dor. Claridade. Dor. Só queria fugir, mudar um pouco de ambiente, conhecer gente nova – sabe-se lá o que ele queria – e já na segunda noite o que arranja é um nariz quebrado. É fato que, onde quer que esteja, suas noites nunca eram muito criativas, quase sempre terminavam assim: briga; de modo que a sensação já era por muito tempo conhecida, estava acostumado. O que, obviamente, não torna a dor menos dor. Levou um tempo pra retomar a memória, entender onde estava e tudo o mais. Mais um cara no quarto, três na sala, garrafas vazias de cerveja espalhadas por todo o apartamento pago por dois meses. Procurou sem muitas esperanças por alguma coisa na geladeira que servisse como café da manhã, mas não demorou muito a perceber que não havia nada lá além de garrafas de cerveja. Lavou o rosto – ou a parte intacta que restava dele –; no quarto, cinzeiros e restos de cigarro pelo chão; colocou a jaqueta de couro, descendo as escadas do prédio no caminho à padaria.
Pediu café forte e puro, acompanhado de bolinhos recheados com queijo. E tudo tinha tanto o cheiro de casa que era inevitável aquela invasão abrupta da sensação de falta; saudade, é como chamam. E tudo do que ele tentava fugir, e toda a fraqueza que se tenta enterrar, estava ali: viva como nunca antes. Ele acorda, naquele susto de quem volta pra vida real depois de passar uns segundos perdido em lembranças. Olha em volta. Umas pessoas trabalhando, outras sendo servidas, muitas passando pela rua – a caminho de seus trabalhos, escolas, encontros –; ele pensa sobre elas. No que estariam pensando enquanto tomam seus cafés solitários. O que conversam os casais que se fazem companhia. O que elas já deixaram pra trás? Quem as espera em casa enquanto não voltam? Talvez tantas perguntas sejam só tentativas um tanto desesperadas de encontrar nas respostas uma identificação; ouvir de alguém que ele não está sozinho, que coisas difíceis acontecem com todos, que existem sentimentos que todo mundo experimenta da mesma forma, e que tudo um dia ainda pode ficar bem. Deixa a grana e sai. Entende logo que era um daqueles dias em que sua mente se contorce sem parar, e decide a qualquer custo não enlouquecer, não hoje. E já era o isqueiro que não ascende. Talvez por ter deixado-o cair.

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