terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os sofrimentos de um jovem qualquer

Eu permanecia ali, acariciando-a com a minha língua por entre suas pernas e, apesar do cansaço, não me atreveria a parar, por saber que jamais nesta minha vida veria algo tão lindo quanto as curvas daquela mulher a se contorcer avidamente sobre meus lençóis. Ainda que vivesse mais de duzentos anos, não acho que seria capaz de encontrar algo mais sublime do que aquele conjunto de cenas ordenadas, tão previsíveis como passos de dança ensaiados, mas que nem por isso deixavam de me prender em profundo encantamento, todas as vezes em que se repetiam.
Que me perdoem as próximas, e sei que nem necessito conhecer todas elas para saber agora mesmo que mulher alguma será mais bela do que a imagem que guardo daquela que é a mais bela de todas. Nenhuma sensação que ainda hei de experimentar – e que me perdoem também os deuses por esta arrogância de quem acha que conhece o que está por vir – nesse mundo gigante terá mais beleza do que sentir o suor quente daquela dama escorrendo por entre meus dedos trêmulos de alegria, fazendo escorregar e escapar de mim aquele corpo trêmulo de prazer. Aquele suor que espalhava por entre as fibras de meus lençóis de algodão o cheiro daquela mulher, cheiro que durava semanas e que semanas depois eu ainda sentiria e buscaria por toda parte com desespero de quem tenta sugá-la por inteira e trazê-la de volta para mim, somente para mim. Cheiro que me faria pensar por semanas nas camas em que ela estaria se deitando, nas línguas que dela estariam provando, nas peles que estariam possuindo seu cheiro, sua pele, seu suor ardendo em prazer.
Por todos os deuses, como eu queria fazê-la somente minha! Por tudo que é mais sagrado – se é que há algo de sagrado no mundo além do que sinto por esta dama quando a tenho em minha cama e em meus poderes – como a odeio profundamente ao imaginar o que anda sussurrando aos ouvidos de outros rapazes, ou dos favores que anda a fazer para os mesmos. Penso que seria capaz de matá-la se me relata todos os causos que tem por aí enquanto não volta novamente ao meu encontro. Penso também em como seria capaz de dá-la todas as surras do mundo se me nega responder o que pergunto sobre eles.
Na verdade, não seria capaz de nada que penso ser, pois no mesmo instante em que a odeio por não ser somente minha, no mesmo instante em que desejo a ela todos os tipos de punições possíveis desse mundo ingrato por não estar ela em minha posse, me amolece todos os pensamentos lembrar-me do quão doce é tê-la em meus braços, recostada no meu peito, sonolenta, depois de tê-la feito esquecer-se dos outros, sublime e satisfeita.
Escreveria todos os poemas do mundo caso isso pudesse prendê-la a mim, como nunca fiz em minha adolescência, muito menos em toda minha vida, se para ela amar não fosse assunto proibido, se para ela, amor não fosse o que mais despreza nesse mundo tão cheio de coisas bem piores do que o amor para se desprezar! Sendo assim, tudo o que me resta fazer é me contentar com o que tenho, que é ter aquela mulher pela metade. É pouco, sei disso. Sei também que devo acabar é louco qualquer dia por conta dessa minha imaginação que voa longe e desse meu ciúme e desse meu ódio que me corroem por dentro. Mas logo ela chega e me esqueço por uns instantes do azar que é a vida enquanto seu corpo não está por perto.