segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quando vale a pena

Sabes quando sabes que valeu a pena? Sabes quando tu te deitas, te pões a relembrar. Te lembras de como choraste, de teu coração ter se encontrado tão apertado. Lembra-te das dúvidas, das esperas incansáveis, da procura por causa do desespero de tê-lo ali. Lembras de querê-lo noite e dia, incessantemente, de estais presa àquele sentimento. Mas lembra-te que o que é angústia, também é o mais saboroso de sentir, entre todos os outros sabores. Então te lembras das boas horas, de não estar só. De risos e risadas e de ir às nuvens ao ouvir certa voz. Pensas no passado, pensas no presente, e se sente satisfeita por ser quem és agora. Por não ter deixado se estagnar, devido ao medo. Por ter jogado o jogo, ter vivido, arriscado. Sabes que valeu a pena quando tens mais coisas boas a te lembrar do que ruins. E, às vezes, mesmo com muitas memórias ruins, talvez ainda tenha valido, nem que seja para te ensinar que não deves mais repetir aquele erro. Vale para te ensinar uma lição que, quem sabe, te guiará durante toda a vida. Vale para aprender. E as boas memórias também ensinam. Tudo ensina, por isso que vale. Vale quando cresces de alma, enquanto ser humano que és. Vale quando, ao fim de relembrar tudo, acabas com um sorriso tranqüilo no rosto. Seja por completude, seja por se dar conta de como a vida é mesmo cínica. De um jeito ou de outro, vale quando sorri aquele sorriso de missão cumprida.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Divides

Chegando à porta de casa, ele a deu um beijo de despedida, mas havia algo diferente. Ele a beijou com certo desespero, com uma diferente intensidade do habitual, como se respirasse ela. Soltou-a de repente, no ar.
– O quê? – ela estranhou.
Ele hesitou por uns segundos, demonstrando confusão. – Não posso me apaixonar por ti.
Ela olhou-o assustada, girou os olhos lado a lado, como se buscasse pela resposta. – Nós paramos com isso, então.
– Não consigo. – ele se pegou um tanto perplexo com a constatação.
– Bem... Então acho que já aconteceu. – se entreolharam em confusão e um pouco de tensão, hesitaram em respirar por um instante e foi como se um esperasse pelo movimento do outro.
– Nos falamos amanhã! – ele achou melhor escapar, adiar. Melhor um tempo para pensar. Desceu as escadas, enquanto ela tentava ainda processar as palavras dele.
– Ei! – ela gritou, fazendo ele se virar de volta. Hesitou. – Tu não vais sumir, vais? – seus olhos agora começavam a se umedecer, mas ele era incapaz de notar à luz do dia e àquela distância. – Digo... Porque se fores, melhor que o faça logo! E melhor que me deixe saber... Talvez assim, seja menos doloroso. – ficaram em silêncio por um instante. – Quer dizer... Tu, tu disseste... Então tá! Sei que eu não deveria falar agora, já que disseste que nos veremos amanhã... É provável que queiras o teu tempo... Enfim, disseste que nos veremos amanhã. Ok. Tudo bem! – e então as lágrimas escaparam, contradizendo suas últimas palavras. Ela procura a chave certa, agitada. Encontra. Ele sobe ligeiramente os poucos degraus até a porta e a puxa de volta.
– Estás com medo?
– Sim.
– Tens medo que eu suma?
– Sim, tenho.
– Por quê? Se eu sumir, o que acontece?
Ela pensa um pouco, na dúvida se deve ou não entregar o que sente. – Vai doer... É tudo muito novo, numa hora somos conhecidos e de repente... Mesmo tudo tendo sido tão rápido, senti medo de te perder quando me deste as costas. E foi uma dor ligeira, mas forte, aguda.
– Então parece que não estou sozinho aqui...
– Mas nossos medos são diferentes. Sinto medo de te perder, pois meu coração talvez já ache que te tens. Tu sentes medo de que um dia teu coração ache que me tens, também, e então, sinta medo de me perder. Tens medo do medo.
– Não, penso que estás errada. Ora, pois deixe de lado esses cálculos! Estamos apaixonados... E é só.
– Mas queres fugir!
– Não quero mais.
– Porque não, se tens medo?
– Porque tu tens também.
– E o quê isso muda?
– Muda que compartilhamos do mesmo sentimento. Paixão, porém medo. Medo, porém paixão. E sabendo que sentes o mesmo, conforta-me a idéia de ficarmos juntos. O medo existe, sim, mas se faz menor se o dividirmos. Divides comigo o teu medo, em troca transformo-o em amor... E devolvo a ti. Então fazes o mesmo, e faremos sempre o mesmo, para sempre. Divides?
– Divido.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Te amo

 Então voltastes! Que queres?
 Ver-te.
 E pensas que é assim? Somes e voltas quando queres?
 Não sumi, apenas precisava de um tempo para mim.
 Oh, um tempo para ti! Para fazeres o que bem entendes e te divertir com outras garotas.
 Não existem outras garotas! Precisava apenas pensar.
 Oh, sei. Pensar em que?
 Em nós.
 Há necessidade disso? Digo, se tu me amasses de verdade não haveria em que pensar, certo?
 Talvez estejas certa. Essa é a questão, não sei se te amo.
 E me diz isso assim, desse jeito?
 Não há outro jeito de dizer. E não estou dizendo que não sinto nada por ti, apenas não sei se é amor. Tu sabes o que é amor?
 Ora, mas claro! É o que sentia por ti.
 Sentia? Desde quando não sentes mais?
 Desde que tu te tornaste outra pessoa. Desde que me esqueces enquanto espero por tua ligação.
 Então não era amor!
 Como não? Se tu nem ao menos sentes, como sabes?
 Sei que se fosse amor, não acabaria assim... Tão fácil.
 Então achas que teu desprezo é fácil para mim de agüentar?
 Nunca te desprezei, apenas precisava de um tempo só para mim, já te disse. Por que tenho de ser perfeito? Não posso ter as minhas dúvidas? Sabes, se tu tivesses em meu lugar, certamente eu te esperaria, eu tentaria te entender, mesmo que isso me machucasse.
 Mesmo que eu tivesse a me divertir com outros caras?
 Não existem outras, pelo amor de Deus! Se estou contigo, é tu e acabou. Somente tu. Mesmo quando estou longe, confuso, ainda assim sou teu. E tu és minha. Isso não muda. Quem pôs essa idéia em tua cabeça?
 Só penso que se tu não dás a mim mais tanta importância, só podes estar a te importar com outra pessoa.
 Mas é claro que me importo contigo! Por isso estou aqui.
 Cansou de pensar?
 Achei que tu talvez pudesses me mostrar uma conclusão.
 Como posso te dizer se me amas? Tu é quem tens de saber!
 Já me mostraste.
 Como?
 Quando fez com que eu me colocasse em teu lugar, e vi que por ti enfrentaria qualquer coisa. Ao contrário do teu amor, que já se foi, o meu, tudo suportaria. Era essa certeza que precisava ter. Nesses últimos dias sofri muito, mas resisti em não te procurar. Senti falta do teu jeito, do cheiro do teu cabelo em meu travesseiro. Quase enlouqueci com a idéia de dormir sem ouvir tua voz e me sentia profundamente vazio ao ver que todas as minhas camisas se encontravam dobradas em meu armário, e nenhuma cobria teu corpo. Mas agora tudo isso valeu à pena, por causa da minha certeza.
 Então me amas?
 Te amo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Há de amar






– Já amastes, pequena?
– Nunca soube o que amor é.
– É que és muito pequena, um dia há de saber!
– E quando souber, se souber, como sei que sei?
– Tu sabes quando tu não duvidas. É simples.
– Nunca hei de amar, então. Sofro a doença dos céticos.
– Ora, pois, ceticismo é razão. Amor não é razão.
– Nunca hei de amar, então. Não ouço o coração.
– Quando amas, não tens escolha. O coração toma a frente.
– E se não tenho coração?
– Mas porque não haveria de ter? Coração lá se acaba!
– De certo modo. Quando se enrijece.
– Tão pequena e de tão duro coração?
– Foi o que a vida tratou de fazer.
– Tão pequena e tão amarga?
– Sim. E creio que amor seja doce.
– Amor é.
– Nunca hei de amar, então.
– Por que não tentas te adoçar? Rapazes gostam de pequenas doces!
– Não mudo.
– Tão pequena e tão egoísta!
– Amor não é egoísta. Eu li em um livro.
– Amor, não.
– Nunca hei de amar, então.
– Mas para que tantos nãos? Tão pequena...
– E tão pessimista! Eu sei, a vida tratou disso também.
– Ora, de tão pequena que és, nada sabes.
– Sei que dói. Não dói?
– Do que estás a falar?
– Amor. Não é do que estamos a falar?
– Pois sim. Não sei, não.
– Como não sabes? Tão grande! De tudo não sabes?
– Alguns dizem que se é verdadeiro, não deve machucar. Outros dizem que dói, todavia vale a dor.
– Dor nunca vale. Dor dói. Por que vale?
– Porque é bom!
– Como pode ser bom o que machuca?
– Sendo. O que machuca durante, também é o que, no princípio, transformará uma pequena como tu, tão cheia de espinhos e nãos, em uma amante. Há de amar, pequena. Amor vivo! De cor!
– Cor vermelha?
– Todas elas! Quanto maior o amor, mais uma delas. Há de amar porque amor transcende dúvidas, por não poder ser explicado à lógica, como havia te dito eu. Há de amar, pois para que se ame não necessitas de esforço para ouvir teu coração. Ele grita. Há de amar, pois para isso é somente necessário que tenhas coração. E tens, que Deus não é esquecido! E por duro que seja, tu tens. Se ele bate, é porque está vivo. O que está vivo pode se quebrar, se dobrar, se inchar. Há de amar, pois o doce do amor é mais forte do que o veneno da amargura, assim como o bem tem vencido o mal desde os princípios da Terra. Há de amar, e quando isto acontecer, te pegarás perguntando a si mesma onde fora parar teu egoísmo, uma vez que pensas mais em outro ser do que em teu próprio. Há de amar, pois o amor é positivo, assim leva embora os nãos. Quando tens alguém andando contigo a segurar tua mão, os medos desaparecem, assim também como a solidão. Então podes qualquer coisa, serás o que quiser, não duvidarás, por não estar mais só. Amor pode machucar, pois, Deus, por algum motivo, fez-nos sensíveis. E traz dúvidas. Até para mim, grande que sou! Tenho muitas delas, mas tenho aprendido que as muitas não importam muito quando tens, ao menos, uma certeza.
Sei que a vida te cortou, pequena. Mas a cura vem para todos. Por isso é que há de amar!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Você pode ser o que quiser ser

A resposta é: talvez. Talvez eu tenha esse azar, ou talvez não. Na vida há sempre cinqüenta por cento de chance para cada alternativa. Eu posso ser nada, ou tudo. E você pode chamar de ilusão da juventude, otimismo, ou o que quer que seja, mas eu fico com o tudo. Porque eu, sinceramente, acredito que você é o que você quer ser. Se pensas pequeno, então pequeno serás. Se desejas o que já foi alcançado, o previsível, então é isso o que terás, e nada além disso. Mas eu não, eu nunca fui uma pessoa normal. Eu nunca desejei o comum. eu sempre me senti como alguém que estava sendo preparada para o mundo, como se eu pertencesse a ele, e a mais nada. Isso porque eu tenho o mundo dentro de mim, nada mais justo que esse mundo inteiro me reconheça, assim como eu o reconheço. Eu quero tudo, eu não gosto de limites. Eu quero conhecer todos os lugares que sempre vi na tv. Eu quero conhecer todas as línguas e sotaques e todo tipo de gente, também. Gente. Eu quero viajar e nunca ter uma rotina sempre igual. Eu não me importo de viver quarenta anos apenas, desde que esses quarenta me pareçam como duzentos. Quero viver tudo o que eu tiver pra viver, ser o que eu quis e nunca o que alguém me obrigou a ser. Fazer o que quis ter feito e não como me ordenaram. Arriscar. Ter histórias pra contar, ter do que me lembrar. Do que me arrepender, do que me orgulhar - apesar de acreditar que arrependimentos só vêm por algo que você deixou escapar, por medo ou por qualquer outro impedimento -. Eu quero ter o que a vida tiver pra me dar... e talvez um pouco mais. Quanto às raízes, acho que a vida tomou parte de me desgarrar de tudo. Se você me perguntasse sobre algo que pudesse me fazer pensar duas vezes antes de ir embora, eu não saberia te dizer. Nada. Nada me prende aqui. Eu tenho sonhos, e não existe nada acima deles.