quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pausa





Pausa. Todos os relógios parados. Ela continua sob encantamento. Os calendários não são atualizados, já não é cedo nem tarde, não há o que se esperar nem pelo que se desesperar. Pausa. Ela observa as pessoas na rua, indo e vindo, indo e voltando, e de novo e de novo, o tempo passando, só que sem o velho tique taque de sempre. Sem nada. Só o saber que o tempo passa. Pausa do querer, do esperar. Todos os relógios parados. O presente é igual ao passado e o futuro inexistente, tudo porque ninguém atualiza os calendários. Os dias são iguais, como se nenhuma história antes dessa houvesse sido contada, tudo porque os livros foram queimados. Todos eles. Todos os calendários programados, os livros e os relógios sabotados, até os jornais e a televisão. Aliás, não há mais jornais. Ninguém escreve nada. Na televisão é sempre a mesma fita de vídeo cassete. Aquela. A que ninguém conhece. A música toca? Toca. Mas é confusa, ninguém entende a letra. Mas continua tocando. E o relógio continua. Continua pausado, mas continua alguma coisa. E tudo continua, pausado naquele espaço entre a pausa e o continua, que para ela significavam a mesma coisa, e ela continuava nessa contínua pausa eterna, continuava junto com os calendários, como a fita de vídeo cassete que ninguém conhece ou como a música que ninguém entende; continuava enquanto não havia nada além daquilo: pausa.