sexta-feira, 16 de março de 2012

Sunshine



Ela acordou numa manhã pacífica de domingo, sem saber se era um sonho. Olhou para o lado e sorriu docilmente ao pensar em como poderia passar uma eternidade somente observando-o dormir. No silêncio da vizinhança que também dormia, na paz exalada pelo sol que, tímido, começava a cortar a janela com seus primeiros raios alaranjados do dia, ela pensava em como o tempo havia passado rápido ao lado dele sem que ela nem ao menos sentisse, como se, de tão bom, tudo escorresse por entre seus dedos, mais rápido do que todo o proveito que ela poderia vir a tirar. Era tudo tão leve que as horas viravam segundos e os meses viravam dias, e todas as coisas que haviam vivido nesse muito e pouco tempo rodavam lentamente como um filme em sua cabeça. Todos os risos, as brincadeira, as brigas bobas que não duravam nem horas, todas as cenas, algumas em câmera lenta, outras em flashes mais agitados... Todas as coisas. Acha que não, ele não era um sonho.
De início, é claro, ela estranhou tamanha paz, tamanho encaixe e perfeição. Algo tinha de sair errado. Mas já se passaram tantos meses, e nada. Nada de mentiras ou decepções. Nada de surpresas ruins ou descobertas amargas. Nada além da tal felicidade, e como essa palavra a assustava! Assustava-a tamanha felicidade, surpreendia-a tamanha paciência vinda dele, que, em meio às inúmeras crises e complicações vindas dela, nunca havia perdido a doçura, nem mesmo se afastado ou reclamado. Pelo contrário, envolvia-a em seus braços com todo o carinho e cuidado de quem abraça o próprio mundo. É, talvez ele fosse mesmo um sonho. Ele a havia ensinado a amar, da maneira mais simples que se pode amar alguém  se é que amor e simplicidade podem aparecer juntos numa mesma frase  e ao lado dele ela tem um dos poucos momentos em que se sente completamente bem, sem a sensação de falta e vazio, antes tão bem conhecida, ou de dor e sofrimento se aproximando.
Ela sabe que fez a coisa certa ao ter escolhido ficar. Ela sempre soube que seria a escolha correta, mesmo com todo o imenso medo do início. Bem lá no fundo, os dois sabiam que deveriam, que haviam sido preparados um para o outro, que acaso e destino haviam conspirado juntos para que chegassem onde estavam agora. Curiosa, ela se perguntava sobre o porquê de ter recebido tal presente, e a intrigava a idéia a respeito de ter feito algo em merecimento do mesmo, mas era passageiro o medo e o pequeno receio íntimo por ter ganhado o que pouquíssimas pessoas têm, e o que o restante passa a vida inteira a desejar.
Deitou ao lado dele, sentindo a respiração macia em sua pele, aconchegando-se bem perto do seu corpo quente envolto em lençóis de algodão. Sim, ele é um sonho. O mais perfeito entre todos os outros sonhos. E ela sabe que a única parte triste da histórica é acordar. Acordar e chegar a hora de se despedir. Acordar e voltarem ambos para suas realidades que transbordam de saudades. Acordar e ter somente o cheiro dele como lembrança, vivo, mergulhado em cada fibra dos tecidos de suas roupas, em cada fio de cabelo dela.