sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

11/01

Estou pensando que és diferente, o que, para mim, romântica que sou – e com este termo refiro-me à minha inclinação para idealizadora incorrigível – é uma das coisas mais perigosas. E falo-te por nada além de experiência.
Pensarei assim, até que cometas tua primeira omissão, quiçá tua primeira inverdade – se é que já não as fez e só irei eu descobrir com o passar do tempo que nos trará a maldita intimidade – e será para mim catastrófico – para dizer-te o mínimo – desfazer a bela imagem que minha mente, irremediavelmente imaginativa, criou de ti. Por acaso não alertei a ti desde o princípio sobre quão difícil é minh'alma? Não seria diferentemente difícil arrancar-me as ideias uma vez já enraizadas em minha cabeça, nem tão fácil seria explicar às taquicardias que invadem-me e encharcam-me as artérias por conta das emoções associadas a tais ideias que me deixassem, pois já não existem mais ideias e o que ficará de ti será somente o que é real.
Não poderei a ti atribuir culpa alguma, vez que, como de costume, fui eu a responsável por toda esta confusão! Fui eu a querer-te primeiro por atribuir-te a missão de ser completamente incomum entre os demais cavalheiros, ou desejei-te e, por isso, atribuí a ti tal missão: e o que importa a ordem quando tudo se trata de imaginação? Pois são os que vivem da realidade os que preocupam-se com os números, com as ordens, as ciências e com a lógica! A mim não importa nada se não minha própria tristeza e dor.
Perdoe-me, nobre cavalheiro. Não foi por segundo algum minha intenção fazer-te perder teu precioso tempo com minhas ladainhas infelizes.
Perdoe-me e esqueça-me, pois nesse mundo onde, paradoxalmente, a realidade reina embora a mentira predomine, já nem existo mais. Perdoe-me, cavalheiro, que nada disso é para mim.
Perdoe-me se fujo por saber que, se fico, tudo só se tornará pior, alargando-me a dor que carrego no peito e que, compreenda, já não é lá muito modesta.
Oh, quão abominável és tu, querida realidade.