sábado, 9 de abril de 2011

Quero que vá embora enquanto ainda é tempo. Quero que isso acabe, aqui, bem no início. Quero que vá, enquanto ainda há tempo de esquecermos dos rostos um do outro. E não me digas que já é tarde, que já não há vida sem mim. E não me fale em amor, que assim ninguém se engana. E dor é o que eu estou a tentar evitar. Vá.
O que não entendes é que alerto-te para teu próprio bem. E não me digas que teu bem sou eu. Ainda que eu seja, sempre sou por pouco tempo. Como sempre. Vá antes que te quebres ao meio. Antes que te machuques. Vá antes que eu te gaste até abusar-me de ti. Antes que te use e te cuspa de enjôo. Vá antes que o tédio da rotina nos corroa pouco à pouco e antes que o dia após dia nos tire a graça de contemplarmos nossos semblantes, maravilhados de paixão. Antes que nos odiemos e a acidez tome o lugar do amor.
Não vês que sou impertencente? É que não sei bem amar e enlouqueço se perco o controle. É que não sei me deixar levar, levar pra onde? Eu sempre preciso saber. Não dou sessenta e um dias para ficar toda querendo fugir  isso acontece toda vez que pressinto alguém me roubando de mim –. Eu me recolho e encolho toda, eu evito e expulso, eu não sei ser de. Eu só sei ser, nem de mim mesma eu sou.
Gravito.
Eu escapo.
Experimente, ou não experimente  é melhor que não  roubar a minha liberdade, é assim: o desprezo me vaza pelos olhos e da minha boca brotam palavras que mais parecem lâminas. Isso para não falar no cansaço, oh meu deus, me canso toda, eu sempre canso! E canso e canso. E eu já falei da insatisfação jamais assez? Oh, garoto, não vai importar lá no final das contas o quanto você se esforçou, eu vou querer mais, mais e mais. E isso é sempre. Eu vou olhar para o lado, eu vou desejar outro garoto, garoto. Eu vou querer tudo de novo, com ele. Por isso vá-te embora, antes que eu quebre teu puro coração ao meio. Às vezes, eu nem faço: alguns garotos se quebram sozinhos. Eles ficam a me olhar e, mas o que eu posso fazer? Só aprendi a amar a mim. Depois eles me cospem também e ficam cheios de espinhos e eles ficam amargos, mas o que eu posso fazer.
Veja que já me conformei, não vês? Sou algum tipo de alguma coisa que não sei chamar, coisa que envenena todas as almas por onde passa, e elas nunca ficam as mesmas. Eu estrago. Eu sou um estrago. E é sem querer, garoto, é sem querer.

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