domingo, 10 de abril de 2011

Still alive

Surpreendeu a si mesma diante da seguinte constatação: estou viva! Dezessete anos e tanto, e é tão pouco ainda. Lhe invadiu a amiga tão pouco íntima, distante felicidade: estou viva. Estou viva e na cara dos meus dezoito anos. Duas idades, uma transição, quatro números, só se tem uma vez. Pensa no seu aniversário, sente que pela primeira vez na vida – depois da infância – seria alegre esse dia. Entenderia o sentido de completar mais um ano de vida, e não de se aproximar cada vez mais do fim – que era a forma como costumava pensar -. Só agora se deu conta de que esses anos são irrecuperáveis. Pensou em um turbilhão de coisas. Só nessa idade os problemas desapareceriam com um simples “foda-se”. Só aqui podíamos nos dar o direito de fazer todas as merdas dignas dessa idade e ao luxo de não fazer direito porra alguma. Pensou nas pessoas que passaram pela sua vida, pensou nas que haviam permanecido. Pensou que as amava pra caralho e que amava o mundo inteiro – ninguém acredita, nem ela, mas amava demais -. Pensou que estava viva e que poderia não estar: quantos não chegam até aqui? “A morte pode estar atrás da porta”, como havia ouvido do professor neste mesmo dia, na aula de literatura. Pensou em como poderia nem ter nascido, em como não deveria, mas, no entanto, estava aqui. Pensou no quanto chorou todos esses anos, ah, não foi pouco! No quanto apanhou da vida, doeu pra caralho. Lembrou que podia estar toda costumarada por dentro, e estava; lembrou dos que lhe fizeram sofrer e pediu que lhes avisassem: “ainda estou viva”. “- Eu poderia nem ter nascido, eu não deveria, mas eu sou teimosa. E filha da puta. Eu sou teimosa e filha da puta. Um brinde aos filhos da puta!” olhava para o céu, se sentia grata, os olhos concordaram, as lágrimas se deitaram. Agradecia:

“- Pela vida,

Deus.

Apenas pela vida.

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