domingo, 21 de abril de 2013

Morrerei calada




Morrerei calada. Lenta de suave, quieta; rápida de sem mais transtornos. Morrerei em vão, e ninguém ouvirá o último respirar, o último pulsar, o último momento. Ninguém presenciará os últimos passos no corredor nem o vento discreto que corre entre os móveis de uma sala. Ninguém perceberia a sutiliza de deixar de ser.
Morrerei de minha própria desgraça, a mesma em que caio neste mesmo instante, no auge de minha juventude. Da minha desgraça para minha paz, sem testemunhas; vítima de minha própria doença, doença que a mim causei, doença que explodiu no mesmo instante em que expulsei a mim mesma de dentro do ventre daquela menina a mim tão estranha.
Desaparecerei sem deixar rastros, e quando procurarem, tudo o que encontrarão serão vestígios de uma vida que não foi minha, de um amor que não fui eu quem fiz, pois, se, ainda em vida, nenhum deles se mostra capaz de sentir o que sou, tampouco compreenderão o que digo quando estiver calada para sempre. Mais calada do que em vida.

Para sempre. 

Mas não procurarão, e portanto, não acharão. Não se lembrarão, como não se lembraram antes.
Morrerei e seguirei em direção a meu merecido descanso, descanso do sentir e da loucura. Quieta, lenta, precoce. Como quem foge por desespero de saber o que está por vir, o que se esconde na velhice, na invalidez e exaustão da alma, o que está por trás do fim.
Morrerei para mostrar o quão certa estive sobre a morte. Mostrarei como, quando se trata dela, não há o que temer. Morrerei e comprovarei o que escrevi em vida por tanto tempo, aquilo de que alguns duvidaram e me julgaram dramática por acreditar: todo ser humano é só.
Tudo se trata de solidão, e a morte se trata da confirmação de todas essas coisas. 
Se em vida fui só, é por isto também que morrerei.

Quieta, lenta e precoce.
   

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